domingo, 24 de fevereiro de 2008

ENTREVISTA DO MESTRE

Oi, pessoal.
Há um jornal virtual chamado Algo a dizer, que realmente tem um diferencial. Um dos colaboradores é o advogado, poeta e escritor Celso Gomes, aluno da Estação das Letras. Gostaria que vocês dessem uma olhada no site www.algoadizer.com.br , para ver do que estou falando. A entrevista deste número é com o professor da Estação Jair Ferreira dos Santos, o mestre dos Contos.
Abaixo alguns trechos, vale a pena ler a íntegra no site, pois ela é polêmica, e está fazendo o maior sucesso entre os leitores do jornal.

ALGO A DIZER – Jair, você nasceu em 1946 em Cornélio Procópio, Paraná e desde 1971 mora no Rio de Janeiro. Fale para nossos leitores um pouco sobre esse período anterior à vinda para o Rio.
Jair Ferreira dos Santos - Venho de uma família simples, classe média baixa. Sou o mais velho de uma ninhada de nove filhos, dos quais três morreram. Meu pai era padeiro e violonista. Durante anos teve uma orquestra. Minha mãe é uma camponesa católica fervorosa que me ensinou quase tudo de essencial para a vida, das primeiras letras ao caráter. Todos os dias me dizia: saber não ocupa lugar. Eu acreditei nisso, era bom aluno e na adolescência, seguindo o clima de contestação da época, comecei a ler Freud, Marx, Sartre, Camus, os mestres da minha geração. Quando vim para o Rio, aos 23 anos, já trabalhava no Banco do Brasil, mas não havia publicado uma linha sequer.

ALGO A DIZER – Sabemos que todo escritor vive de concepções literárias formuladas pelas gerações que o precederam. Quais os escritores que o influenciaram?
Jair Ferreira dos Santos – Clarice Lispector foi uma referência básica para muita gente e para mim também, mas eu li muito Machado, Osman Lins, Kafka, Joyce, Proust, Musil e, sobretudo os americanos. Gosto imensamente dos autores americanos porque eles me ensinaram o caminho até a realidade, a minha realidade, quero dizer. Eles jamais abandonam a história e a vivência concreta do seu país. E por aí li bastante Fitzgerald, Hemingway, Faulkner, sobretudo John Barth e John Updike, o primeiro porque é um fabulista incomparável e o segundo porque é também um estilista de primeira linha. Queria ser escritor porque a ditadura militar me enojava e tanto o marxismo quanto o existencialismo, os quais eu admirava, cobravam um compromisso com o homem e a justiça social.
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ALGO A DIZER – Seu livro O Que é Pós-Moderno figura na coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense, com mais de cem mil cópias vendidas. Como surgiu a idéia deste livro? E o que é pós-moderno?
Jair Ferreira dos Santos – O livro surgiu de uma dissertação de mestrado que não fiz. Baixei a bola e a transformei num texto que se aproximasse o máximo possível daquilo que os franceses chamam de “haute vulgarisation”, ou seja, um conceito complexo explicado para milhões. Deu certo, já vendeu mais de 120 mil exemplares. O pós-moderno é uma idéia ainda em processo e se caracteriza pelo advento da sociedade pós-industrial, isto é, com foco não na produção de bens industriais, mas na geração de informação e conhecimento necessários aos serviços, num contexto que não mais acredita, como na modernidade, nos grandes discursos (religião, razão, ideologia, História), cultivando antes as soluções parciais, pragmáticas, o aqui e a agora do consumo, do individualismo e do narcisismo contemporâneos. Isto bate em toda linha com o triunfo globalização e a generalização do capitalismo neoliberal, mas também não é o Fim da História. A crise ecológica é uma faca no pescoço das sociedades avançadas e vai obrigá-las a grandes reformulações. Para disseminar por todos os países o nível de consumo americano, por exemplo, serão necessários quatro planetas Terra.

ALGO A DIZER – Jair, você é um crítico mordaz da classe média urbana. Como surgiu essa decepção e onde você quer chegar com esse desnudamento?
Jair Ferreira dos Santos– Creio que é porque a classe média cultiva uma indecorosa inconsciência de classe e só a crítica, uma palavra execrada no jargão conformista atual, faz aflorar seu ridículo e suas contradições. Hoje todas as estratégias econômicas e políticas passam pela classe média porque ela é reformista, inerte, e absorveu, desmobilizou a grande onda de choque revolucionária dos anos 60 e 70. Além disso, ela é a principal destinatária da publicidade e do entretenimento midiático, ela é a espinha dorsal do consumismo, da obscenidade que são as celebridades, etc. Ela adora ser empulhada. Veja a televisão. Ela ajuda diariamente a classe média e os pobres a fingirem que não levam uma subvida, presenciando nas telas a “verdadeira vida”, que é a levada pela burguesia com seu alto consumo. É isto é um ideal de existência!!!!!!!!!!

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ALGO A DIZER – Jair, qual o papel da literatura nos dias atuais? A literatura ainda pode modificar as pessoas com sua força de questionamento, como Kafka fez com a gente?
Jair Ferreira dos Santos – Eu quero ser otimista, mas estamos no meio de uma revolução tecnológica, especialmente na área de comunicação, e a tendência parece encaminhar-se para mudanças radicais na forma de difusão da criação literária. A meu ver a literatura não acabará, porque narrar faz parte do processo de constituição da identidade humana e a poesia é a forma mais refinada de mergulharmos na dor e na alegria, coisas que dificilmente acabarão. Já o livro em papel sobreviverá talvez como certas artes menores, cunhagem de moedas, a tapeçaria, a gravura. A literatura mantém o homem permanentemente em questão, porque ele é o único ser cuja essência é a questão do seu ser – somos todos inacabados, incompletos e não é o Prozac que dará jeito nisso. Logo as coisas sérias transitarão por uma grande literatura minoritária, para poucos, como é o caso do surpreendente As Benevolentes, do franco-americano Jonathan Littell. Quando se falava na morte da arte de escrever pelo mercado de porcarias sub-literárias, surge um romance como este, de 900 páginas, em que um carrasco nazista bissexual dá sua visão da matança nos campos de batalha e de extermínio na Segunda Guerra Mundial. O poder hoje está com as neurociências, a biotecnologia e a hipercomputação e suas maravilhas, mas elas não são nada sem as palavras e a palavra é a nossa única possibilidade, como a flor que fura o asfalto, de transcendência na pura imanência tecnológica.

Como o próprio Jair diz nas suas aulas, é pau puro. Não deixe de ler tudo, e confira suas idéias políticas, quando diz que Lula merecia um terceiro mandato.
Cartas para a redação!

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