terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O TRADICIONAL E O REBELDE

Há um jornal literário editado em Curitiba que é uma boa indicação para quem gosta de ler, escrever e ficar bem informado com o que se produz no país. É uma publicação séria, sem os inconvenientes dos cadernos literários dos jornais – ligados a grupos econômicos. O “Rascunho” sai mensalmente, trazendo matérias de críticos de São Paulo, do Rio, de Salvador, Brasília, Porto Alegre, e Curitiba (um pólo de bons escritores). Neste mês veio um ensaio da Cláudia Lage:

Cláudia Lage, professora de “A Arte do Conto”, da Estação das Letras, um curso excelente para quem quer aprender a escrever contos. Cláudia já publicou “A morte e outras naturezas”, e alguns contos em antologias, é professora e doutoranda na UFRJ.

Neste artigo, ela diferencia os dois tipos de escritores pensados por Cortázar – em sua Teoria do Túnel, de 1947, o tradicional e o rebelde – dos autores contemporâneos. E provoca alguns questionamentos: “como os escritores de hoje se relacionam com os escritores de Cortázar, qual o posicionamento estético que assumem diante de tudo o que já foi feito e rompido na história literária, como trabalham com os elementos da narrativa”, etc.
Algumas colagens:
“O escritor de hoje tem acesso a uma biblioteca imensa de estilos e modos de escrever. Portanto, acumula-se à questão do escritor rebelde – e suas experiências contra a literatura tradicional – a própria questão contemporânea, que possui em sua memória histórica tanto a afirmação quanto a negação da tradição. Este escritor vivente no século 21, diante de tantas informações e referências, corre o risco de ser seduzido por tantos caminhos e de se perder em um labirinto de possibilidades expressivas, limitando-se a reproduzi-las, sejam tradicionais ou vanguardistas, acrescentando pouco da sua própria época e da sua originalidade pessoal”.
“Assim, o escritor contemporâneo, inspirado pelo escritor rebelde de Cortázar, impõe a si mesmo o desafio expressivo que percebe de sua época, de seu tempo e que se torna a sua saga pessoal. Para ele, a aventura de escrever não se limita a colocar palavras no papel e contar bem e com alguma graça uma história (essa habilidade é o início e não o fim de sua vocação). Tampouco é utilizar as mesmas armas agressivas do escritor rebelde contra a tradição, já que as mesmas já se tornaram com o tempo, uso e repetição também uma espécie de tradição. Este escritor percebe que muito já foi feito, desfeito, dito redito e sente no ato de escrever um tipo de saturação do próprio verbo. Há tantas formas possíveis de se contar uma história que ele se pergunta se todas já não foram feitas e refeitas exaustivamente nas últimas décadas.”

O artigo todo está no RASCUNHO :
www.rascunho.com.br, e vale a pena dar uma lida nesta e em outras matérias, pois além das críticas literárias, traz entrevistas feitas pelo José Castello na seção Paiol Literário (o Marçal Aquino arrasa neste número), comentários sobre os poetas novos, ensaios sobre os consagrados (Flaubert, Shakespeare, Baudelaire, Proust, etc) sempre uma matéria sobre a tradução, um livro em capítulos (do Nelson de Oliveira),muitos etc. A assinatura do periódico é semestral, bem baratinha.

Buenas.

Nenhum comentário: