segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

WISLAWA SZYMBORSKA

Wislawa Szymborska nasceu em 1923, num vilarejo da Polônia. Vida singela, sem grandes atropelos. Começou a escrever poesia aos vinte e poucos anos, o primeiro livro censurado pelo regime comunista que o considerou obscuro para as massas. Talvez por isso ela tenha feito poemas claros como água, despojados de retórica e efeito poético. Ganhou o Nobel em 1996.
(Poema retirado da revista Piauí, de maio de 2007, com tradução de Sylvio Fraga Neto e Danuta Haczynska da Nóbrega).


POR UM ACASO

Poderia ter acontecido.
Teve que acontecer.
Aconteceu antes. Depois. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu, mas não com você.

Você foi salvo pois foi o primeiro.
Você foi salvo pois foi o último.
Porque estava sozinho. Com outros. Na direita. Na esquerda.
Porque chovia. Por causa da sombra.
Por causa do sol.

Você teve sorte, havia uma floresta.
Você teve sorte, não havia árvores.
Você teve sorte, um trilho, um gancho, uma trave, um freio,
um batente, uma curva, um milímetro, um instante.
Você teve sorte, o camelo passou pelo olho da agulha.

Em conseqüência, porque, no entanto, porém.
O que teria acontecido se uma mão, um pé,
a um passo, por um fio
de uma coincidência.

Então você está aí? A salvo, por enquanto, das tormentas em curso?
Um só buraco na rede e você escapou?
Fiquei mudo de surpresa.
Escuta,
como seu coração dispara em mim.

Nenhum comentário: